Preciso muito falar sobre esse assunto, talvez o texto fique grande, mas não posso deixar passar.
Existem pessoas que se alimentam do que está quebrado em você, guarde isso.
Fique claro que quando digo "quebrado" é subjetivo, não significa algo propriamente ruim, e não tenho autoridade ou competência pra dizer o que é certo ou errado. Falo sobre mim e o que estava quebrado na minha vida por muito tempo.
Essa autoquíria se desenvolvia de diversas formas, sendo elas a própria mutilação, abuso de drogas (álcool e cigarro), depreciação pessoal pública constante e libertinagem, e aqui no que se refere a libertinagem preciso elucidar:
Não vejo a libertinagem ou promiscuidade como algo condenável, pra mim isso fazia parte de uma "mutilação", pois essa era a sua função. Eu não me relacionava com várias pessoas de forma livre e sem pudor somente por querer. Diversos fatores me levavam a isso, e dentre eles estavam a necessidade de aceitação, carência, crença de que meu papel como mulher era de servidão ao prazer masculino, e no fim me ferir de mais uma forma.
Em nossas conversas, sempre ficou clara essa rebeldia para comigo mesma. Era algo que eu chegava a ter orgulho de expressar. Tinha a sensação de que a minha forma de viver a vida era a correta, me arriscando a buscar todos os prazeres possíveis, sem perceber que era uma doença, que eu era vítima e que na verdade não entendia nada do que estava acontecendo.
Por vezes tentei convencê-lo a se arriscar comigo, e em quase todas ele cedeu. Éramos adolescentes ainda.
O tempo foi passando, e eu já adulta e ciente da depressão, continuava vivendo uma vida destrutiva, as coisas tinham mudado pra pior, já que ser adulta me permitia fazer o que eu quisesse.
E foi então que eu comecei a entender.
Ele sempre me procurava de tempos em tempos, e as condições eram sempre as mesmas: Tinha terminado um namoro; dado um tempo; estava afastado da igreja; andava se arriscando. Não demorei pra perceber esses padrões, mas demorei pra aceitar que isso estava acontecendo. Toda vez que essa vontade de se destruir passava, e ele voltava a sua vida normal, eu era excluída ou bloqueada em todas as redes sociais, como se eu fosse algo a se esconder, esquecer. Eu via tudo isso, mas nunca mexeu comigo ao ponto de buscar saber o porquê, afinal eu queria a oportunidade pra me destruir mais uma vez, e isso poderia vir de qualquer pessoa. Mas apesar dessa relação inconstante, acreditava sermos amigos. Até que tivemos nossa última conversa, e tudo ficou claro.
2019 e eu estou melhor. Tenho minhas crises, mas no geral sigo bem, posso dizer que sou feliz. E depois de um ano sem nos falarmos ele veio me procurar. Disse que estava com saudade, que lembrou de mim, que estava arriscando, que "só faltou fumar maconha". Eu entendi. Ele queria minha promiscuidade, minha doença, o eu quebrado. Ainda tô quebrada, mas me preocupo muito mais em consertar do que alimentar essa dor. Então me perguntou como eu estava, e respondi da melhor maneira possível. Falei sobre o quanto estou feliz, sobre tudo que ando fazendo e amo, sobre os vícios que larguei, sobre minhas conquistas, realmente cantei minha vitória, pequena porém muito significativa, e fui respondida da forma como eu já esperava.
Não houve resposta.
Sobre a foto: Dos que se alimentam da dor.
