sábado, 24 de agosto de 2019

- Ansiedades

Acordei às 3 da manhã, não consegui mais dormir. Talvez eu já não durma bem há tempos, durmo por muitas horas e sempre estou cansada. 
Eu sei o motivo, sei que meu corpo fica tenso o dia todo, que meu esforço físico é maior do que parece.

Durante a pior época da depressão, sempre convivi com uma forte ansiedade. Mas foi um período turvo, minha ansiedade se resumia a meus relacionamentos e a forma como as pessoas me viam. Acredito que tinham outras razões, mas nunca consegui identificar. 


Agora eu vejo a ansiedade de forma mais clara, percebo as questões que me fazem não conseguir relaxar. O problema disso é que quase tudo tem sido motivo. Não sei se estou passando por um período digno de uma produção cinematográfica, ou se a ansiedade me traz uma óptica distorcida dos fatos. Fico com a segunda opção, já que somos amigas de longa data, conheço suas curvas.


O dia amanheceu e desisti de dormir. 

Sentada na janela olhando as nuvens cruzem meu campo de visão, resolvi que era melhor olhar o mar. 
O mar que sempre me fez bem, me ajudou a refletir sobre questões tão importantes e revolucionárias dentro do meu universo. 

Então eu fui colocar meus pés na areia, e tentar me sentir como me sentia no passado. Faz muito tempo que não me sinto livre, o dia a dia é turvo, e eu entendo muito pouco do que está realmente acontecendo. Só vou fazendo o que tem que ser feito, sem pensar muito.


Me senti bem novamente, livre.


Liberdade talvez seja o centro da minha galáxia de ansiedades.

Todas as questões que me doem os ombros estão de alguma forma relacionadas a liberdade. 
O pior é que eu sempre soube, e mesmo assim não foi o suficiente para que eu conseguisse resolver, não sei se há solução, mas precisa haver.

Refleti sobre todas as questões que me afligem enquanto olhava o mar, o céu, a areia, as pessoas vivendo suas vidas e eu não vejo mais sentido em nada disso... 

Mas no fundo eu ainda podia sentir a liberdade que enchia meu coração no final de 2017.
Olhar pro horizonte do mar e pensar no quão grande o mundo é, e que isso aqui não é nada na verdade. 

Se aproxima um homem, achei que ele queria deixar a roupa dele perto de alguém e entrar na água. 

Ele ficou me olhando, desistiu de entrar na água e sentou. 
Eu podia ver ele me olhando.
Resolvi levantar para ir embora, já que não podia ficar com meus pensamentos em paz.
Escuto alguém assoviar, olho pra trás e ele esta indo na minha direção, porém sem me olhar. Só penso em me desvencilhar desse cara.

Será que estou enlouquecendo?



Mais uma ansiedade.

quarta-feira, 22 de maio de 2019

- Os que se alimentam da dor


Preciso muito falar sobre esse assunto, talvez o texto fique grande, mas não posso deixar passar.

Existem pessoas que se alimentam do que está quebrado em você, guarde isso.
Fique claro que quando digo "quebrado" é subjetivo, não significa algo propriamente ruim, e não tenho autoridade ou competência pra dizer o que é certo ou errado. Falo sobre mim e o que estava quebrado na minha vida por muito tempo.

Tenho um amigo da época de escola, lá pelos meus 14 anos. Ele sempre foi cristão praticante, conciliando muito bem com seus gostos musicais mundanos e a fixação pelo mundo nerd, foi inclusive o que nos aproximou. Eu sempre fui uma garota meio quebrada, como já contei várias vezes sobre depressão, e por isso nutria um gosto pela autodestruição. 
Essa autoquíria se desenvolvia de diversas formas, sendo elas a própria mutilação, abuso de drogas (álcool e cigarro), depreciação pessoal pública constante e libertinagem, e aqui no que se refere a libertinagem preciso elucidar:

Não vejo a libertinagem ou promiscuidade como algo condenável, pra mim isso fazia parte de uma "mutilação", pois essa era a sua função. Eu não me relacionava com várias pessoas de forma livre e sem pudor somente por querer. Diversos fatores me levavam a isso, e dentre eles estavam a necessidade de aceitação, carência, crença de que meu papel como mulher era de servidão ao prazer masculino, e no fim me ferir de mais uma forma.

Em nossas conversas, sempre ficou clara essa rebeldia para comigo mesma. Era algo que eu chegava a ter orgulho de expressar. Tinha a sensação de que a minha forma de viver a vida era a correta, me arriscando a buscar todos os prazeres possíveis, sem perceber que era uma doença, que eu era vítima e que na verdade não entendia nada do que estava acontecendo.
Por vezes tentei convencê-lo a se arriscar comigo, e em quase todas ele cedeu. Éramos adolescentes ainda. 

O tempo foi passando, e eu já adulta e ciente da depressão, continuava vivendo uma vida destrutiva, as coisas tinham mudado pra pior, já que ser adulta me permitia fazer o que eu quisesse. 
E foi então que eu comecei a entender.
Ele sempre me procurava de tempos em tempos, e as condições eram sempre as mesmas: Tinha terminado um namoro; dado um tempo; estava afastado da igreja; andava se arriscando. Não demorei pra perceber esses padrões, mas demorei pra aceitar que isso estava acontecendo. Toda vez que essa vontade de se destruir passava, e ele voltava a sua vida normal, eu era excluída ou bloqueada em todas as redes sociais, como se eu fosse algo a se esconder, esquecer. Eu via tudo isso, mas nunca mexeu comigo ao ponto de buscar saber o porquê, afinal eu queria a oportunidade pra me destruir mais uma vez, e isso poderia vir de qualquer pessoa. Mas apesar dessa relação inconstante, acreditava sermos amigos. Até que tivemos nossa última conversa, e tudo ficou claro.

2019 e eu estou melhor. Tenho minhas crises, mas no geral sigo bem, posso dizer que sou feliz. E depois de um ano sem nos falarmos ele veio me procurar. Disse que estava com saudade, que lembrou de mim, que estava arriscando, que "só faltou fumar maconha". Eu entendi. Ele queria minha promiscuidade, minha doença, o eu quebrado. Ainda tô quebrada, mas me preocupo muito mais em consertar do que alimentar essa dor. Então me perguntou como eu estava, e respondi da melhor maneira possível. Falei sobre o quanto estou feliz, sobre tudo que ando fazendo e amo, sobre os vícios que larguei, sobre minhas conquistas, realmente cantei minha vitória, pequena porém muito significativa, e fui respondida da forma como eu já esperava. 
Não houve resposta.

Sobre a foto: Dos que se alimentam da dor.



terça-feira, 30 de abril de 2019

- Qual o sentido da vida?

A depressão me afundou por muitos anos, lembro de achar que não teria fim, já não lembrava como era não conviver com ela, cheguei até a pensar que ela sempre foi presente. Ela trazia consigo  ou talvez fossem pequenas partes que formavam o monstro  questionamentos, muitos deles sobre o sentido da vida. A minha vida não tinha sentido ou direção, eu não sabia porquê estava aqui e o que precisava fazer, até o dia que desisti de tentar entender e aceitei como meu sentido da vida "ser feliz". Simplesmente entendi que deveria fazer tudo que fosse possível para fazer bem a mim, para ser feliz, aproveitar cada momento ao máximo e isso foi libertador.
Ela então foi partindo, mas sempre deixando uma pontinha pra que eu não esquecesse que ela está por aí e que sempre volta, sinto como uma doença sem cura, você alivia, passa a conseguir conviver com ela, mas no menor deslize ela se mostra presente. Entendi que aceitar essa condição não me faz mais fraca, na verdade tenho a sensação de que envelheci ao menos 10 anos nessa história toda. Fiz questionamentos que sozinha talvez eu não fizesse, ela me fez ver que a vida não é só bonita, tirou o filtro dos filmes e novelas, me trouxe a realidade. É bom enxergar a vida pelo lado ruim, é bom olhar através dos olhos de um pessimista de vez em quando.
Agora cheguei a um ponto em que me considero feliz, faço tudo que posso para me agradar, tenho vivido coisas que sempre sonhei. Provei que sou capaz de fazer coisas que eu jurava que não conseguiria e que por muitas vezes discuti para provar que eu realmente era incapaz. Não sou incapaz, e percebi que se eu consegui isso posso conseguir qualquer coisa. Porém retornei a um antigo questionamento: Qual é mesmo o sentido da vida?

Por mais feliz que eu seja agora, nada parece fazer muito sentido e o sentido que encontrei pra minha vida já não satisfaz. 
Será que em algum momento fez? Ou eu só acreditava que fosse por ainda não tê-lo alcançado? 
Será que sou uma criança frustrada descobrindo que alcançar objetivos aqui não significa alcançar a plenitude? Como alcançar a plenitude?
Independente de tudo, acredito que devo viver essa fase, que mais uma vez fará parte do meu amadurecimento. 
Apenas espero que passe.

Sobre a foto: Talvez seja o sentido de alguém, alguns dias é o meu também.