quarta-feira, 24 de maio de 2017

- Quantos tragos eu quiser

Sempre me falam pra eu parar de fumar, concordo que eu deveria, mas todos os dias quando vou ao terraço da empresa, vivo por alguns minutos em um mundo só meu, uma mistura de sonhos e nostalgia, como se a paz fosse algo realmente alcançável. 

Lá em cima, 17 andares do chão, o sol esquentando meu corpo no outono, um silêncio incomum. Vejo as vidas, os carros seguindo, apressados ou não, mas não importa, o pouco som que chega, chega preguiçoso, tudo tão calmo. Tenho a sensação de que o mundo é diferente, de que as coisas podem ser doces e não pesadas, de que talvez levantar da cama não seja mais um fardo. 
Vejo as crianças correndo no pátio da escola, me lembro de quando era eu, e de como tudo parecia tão simples. Lembro de não ter medo do futuro, e de esperar muito mais dele também. Me sinto novamente com 13 anos, me sinto segura.
Olho ao longe e vejo o sol batendo nos prédios altos, vejo as diversas coberturas sempre vazias pelo Humaitá, me pergunto se as pessoas que moram ali são felizes, será que é isso que é preciso? Nunca vejo ninguém além dos funcionários limpando ou consertando alguma antena, por que será que ninguém aproveita um lugar assim pra fumar um cigarro ou pensar na vida? 
Olho pra mim e lembro de tudo que está errado em mim, mas ali em cima não importa, é quase como se não houvesse vida real, sou só eu e meus pensamentos sobre qualquer coisa que eu queira, sem obrigações, sem pessoas, quantos tragos eu quiser. 

Sobre a foto: Humaitá