sábado, 26 de abril de 2025

- A certeza do fim


Sentia aquele gosto familiar, um dos favoritos no mundo, até o momento.

E a vida sempre se mostrou pra mim em lugares simples. 
Uma lua no céu ao fim de um dia de trabalho, um entardecer entre os prédios, um breve encontro que parece uma dança ensaiada...

Enquanto eu jurava amor eterno, e dizia ser possível viver apenas com aquilo pro resto da vida, me peguei pensando na brevidade das coisas.

Um dia isto não existirá mais, esta loja não estará mais aqui, você não vai mais ouvir essa voz, talvez você nunca mais vá aquele lugar, não possa mais sentir o sabor, o calor.
Lembrei dos lugares que não vou mais, das vozes que se calaram, do gosto que não é mais o mesmo.

Pensei que então eu deveria aproveitar todas as oportunidades, estar viva sempre que possível, pois tudo aqui é muito breve, e olhando do futuro, os anos são sopros.

Espero poder continuar vendo a lua despontar no céu e que o entardecer alaranjado do Rio de Janeiro ainda aqueça meu coração.

- Normal

Eu bebi com o pessoal do trabalho...

31 anos...

Eu pensei que eu saberia o que tô fazendo, da vida, não do dia. 

A gente bebeu e fumou 1 na frente do fofoqueiro mais conservador da empresa... mas como meu chefe falou, a única pessoa que importa é a minha mãe.


Eu tô sentada no metro e vagou o lugar pra um cara sentar ao lado do filho, o moleque deve ter uns 7 anos. Não tão criança, mas não com tantas certezas...

Ele faz cócegas no filho por umas 5 estações,  sem cansar... quem ele quer enganar?

Ninguém? É só como um pai deveria ser?

Ele começa a me fazer pensar em ter filhos, 

Será que isso não é o normal? Ideal?


Ele me olha pelo vidro escuro da janela do metro,

Quase como quem lê meus pensamentos...

Ele lê. Ele sabe o que eu tô pensando e me encara por 1 segundo, como se me dissesse um parágrafo completo.

Eu te odeio.

Porque você tá certo.

Filho da puta pretensioso.


*Texto escrito em 2023.